Um dos braços de negócios de um grupo de
varejo teria contratado empresas para "esquentar" o pagamento de
propina para suposta liberação de obras em empreendimentos. A matriz de uma
mega rede de hipermercados decide investigar se suas subsidiárias, inclusive no
Brasil, teriam conhecimento da existência de subornos a funcionários públicos
para agilizar a abertura de lojas.

Shopping Higienópolis, em área nobre da capital paulista: na cidade, é preciso passar por pelo menos 60 órgãos da Prefeitura para obter licença de funcionamento
O primeiro caso, sob investigação do Ministério Público,
envolve a Brookfield Gestão de Empreendimentos e, o segundo, informado pela
rede Walmart, está sendo apurado pelo comando do grupo americano no mundo.
Ambos vieram à tona recentemente e levam executivos, empresários e analistas a
discutir uma questão importante: como expandir seu negócio, no ritmo demandado
pelo consumidor, sem driblar a legislação. É missão quase impossível.
São abertos de 30 a 40 shoppings no Brasil ao ano, em
média. Em 2011 foram 36 shoppings inaugurados, três por mês, segundo a Alshop,
entidade setorial. No varejo alimentar, calcula-se que 900 supermercados e
hipermercados tenham sido abertos em 2011, segundo a Abras, associação do
setor. Ao mesmo tempo em que essa forte expansão do varejo aconteceu, redes de
comércio e construtoras de shoppings dizem que o processo de liberação para
funcionamento de um negócio ficou bem mais complexo.
Ao comentar as dificuldades de abertura de shoppings, a
WTorre informou que tem sido necessário passar por uma média de 62 a 75 órgãos
da Prefeitura Municipal de São Paulo, ao longo do processo de construção de um
shopping, para se conseguir a certidão de "habite-se". Nos últimos
cinco anos, "esse volume aumentou algo em torno de 20%", comentou em
entrevista recente ao Valor Walter Torre, presidente da WTorre. E,
sem isso, não avança. "O que acontece é que a burocracia hoje pega muito
menos o pequeno empresário, que usa do sistema Simples, do que o grande
empresário.
Quanto maior a estrutura da operação, maior a dor de
cabeça", diz Nelson Barrizzelli, professor de economia da USP e
especialista em varejo. "Isso, obviamente, não é justificativa para
eventuais atos ilícitos. "A questão é que muitas vezes, o que existe é um
esquema para criar dificuldades e, dessa forma, 'vender' facilidades".
Como pano de fundo dessa discussão há uma questão
estratégica. Donos de shoppings e supermercados precisam abrir operações a
partir do zero. São as novas lojas que puxam os resultados finais dos grupos
para cima, mostram seus relatórios de resultados.
Ex-executivos de redes varejistas, prestadores de
serviços e gestores de shoppings ouvidos pelo Valor contam,
sob a condição de anonimato, que há de pequenos delitos a irregularidades
grosseiras nas negociações para abertura de lojas e de centros comerciais.
"Há loja pequena operando com licença de oficina mecânica, só para dizer
que tem um alvará, e tem loja que abre sem a licença", diz um
ex-superintendente de loja.
Um prestador de serviços ouvido conta que chegou a participar
da inauguração de um supermercado no Estado de Goiás sem saída de incêndio e
com uma única porta de entrada. "Se você vê algo assim, desconfia",
afirma a fonte. "E o comandante do Corpo de Bombeiros da cidade estava na
abertura".
Segundo um consultor de gestão, há empreiteiras, via
empresas terceirizadas, que resolvem eventuais problemas, via pagamento de
propinas, para a abertura de um novo negócio. "Empresa grande nem se mete
nisso", diz ele. "E quanto mais para o Norte do país, e mais para o
interior das capitais, mais fácil tratar desses assuntos e pagar por fora para
abrir loja mais rápido", diz. "Tem meia dúzia de secretários que
mandam na cidade e, além disso, o prefeito sempre quer ter um shopping ou uma
loja grande no município pequeno, o que facilita tudo", afirma.
Há casos em que pequenas divergências podem virar motivo
para se negociar comissões extras. "Teve um caso de uma rede que contratou
uma empresa de fora da cidade para montar a loja. De repente começou a empacar
tudo. Mudaram a fornecedora para uma empresa da cidade e a coisa
engrenou".
Fonte: Valor.com.br
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